sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ASSINATURA E MARCAS PESSOAIS DO GRAFITEIRO I

Renovação de espírito

No Rio de Janeiro, artistas visuais urbanos se reúnem ocasionalmente para invadir uma comunidade e grafitar todos os muros cedidos pelos moradores. “Você pode imaginar centenas de pessoas colorindo as paredes de comunidades marcadas pelo cinza do cimento e pelo vermelho dos tijolos, e sem remuneração? É uma cena no mínimo bem bonita”, descreve o rapper, historiador e documentarista João Xavi. Nascido em São João do Meriti, na Baixada Fluminense, onde vive até hoje, Xavi é militante e entusiasta da ocupação urbana.
Sobre o Mutirão de Grafitti, ele diz que é um gesto de doação e “renovação de espírito”. A situação é difícil para os artistas urbanos, a maioria de baixa renda. O retorno é quase apenas ideológico ou filosófico. Xavi conta que constatou na Europa o apoio do Estado à atividade cultural voltada para a juventude. No Brasil, por outro lado, segundo ele, o Estado oferece políticas de repressão. “A polícia ainda não entende que o hip-hop é uma manifestação que não tem nada a ver com organizações criminosas. A luta é contra o estigma de criminalização da pobreza. Pobres organizados, mesmo que seja para dançar e cantar contra a violência, geram desconfiança.” Ele acha que é preciso muito diálogo para renovar as possibilidades do uso do espaço público visando a uma ocupação ao mesmo tempo “mais racional e criativa das brechas que ainda existem nas cidades”.
Exemplo de manifestação organizada e pacífica da cultura hip-hop em Belo Horizonte é o Duelo de MCs, que há cerca de dois anos reúne entre 300 e 400 jovens nas noites de sexta-feira sob o Viaduto de Santa Teresa, na Zona Leste. Diferentemente do que sugere seu nome, o evento exibe também a arte de dançarinos, DJs e grafiteiros. Organizada pelo grupo Família de Rua, a iniciativa já conta com iluminação e banheiros químicos, mas ainda reivindica policiamento preventivo.
Para Tiago Antonio, o Monge, integrante do grupo organizador e mestre de cerimônias do Duelo, esse encontro é uma prova de que jovens podem intervir na cidade sem violência. “Nossos objetivos são a convivência e a troca de informações. Fazemos porque gostamos e para aprimorar nossas artes”, ele explica. Monge, que teve de interromper o curso de Ciências Sociais e trabalha com educação de jovens por meio de oficinas de hip-hop, conta que o Duelo de MCs gera entre os participantes conscientização da necessidade de o jovem “ocupar e preservar o espaço urbano”.
https://www.ufmg.br/diversa/17/index.php/cultura/a-rua-como-tela-e-palco

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